Quando era criança lembro-me de olhar para frente e pensar "posso ser o que eu escolher ser", pensava sobre mim mesmo como um poço de possibilidades. Provavelmente foi uma frase que algum adulto falou para mim, assim como falaria para qualquer criança, mas aquilo me enchia de expectativas e sonhos. E a realidade, de fato, não é muito diferente disso, quando se é criança e se tem pais com possibilidades financeiras para bancar essas escolhas. Mas o tempo vai passando, aniversários vão sendo cumpridos, e essa realidade vai se distanciando enquanto a criança se transforma num adulto.
Parece haver uma janela de tempo onde certas escolhas são mais propicias a se tornarem realidade, quer dizer, a facilidade e disponibilidade de tempo e paciência que uma criança possui para aprender um instrumento musical ou ser alfabetizada já não são as mesmas de uma pessoa em idade adulta, assim como as possibilidades de escolhas profissionais vão se afunilando com o passar do tempo.
O caminho que vai na contra-mão da "escolha profissional" parece ser o mais comumente traçado. Este seria justamente o do fluxo das necessidades e estímulos socioculturais. Falo aqui não somente sobre um contexto "sociocultural" desfavorecido, mas destaco justamente a juventude da classe abastarda, onde "fluxo das necessidades" é a falta de necessidade e os "estímulos socioculturais" podem ser associados, em muitos casos, ao do "bom vivan".
Não há, em absoluto, algo de anômalo neste comportamento, pois é justamente o que se espera da juventude: um período de escolhas! E com tantas opções aflorando diante de nossos olhos é difícil falar "é isso que eu quero" com uma real reflexão a respeito (e geralmente com nenhum conhecimento de causa). As escolhas parecem ser volúveis... E o tempo vai passando e aniversários vão sendo cumpridos...
Enfatizo essa questão do tempo porque vem de acordo com reflexões recentes: após dois anos em um curso de graduação em psicologia percebi não ser aquele o meu sonho de vida e vi comprometida minha satisfação a longo prazo. Então fui defrontado com uma situação fora dos planos familiares, a de assumir o erro em ter escolhido pela psicologia e seguir rumo a uma nova fronteira, a física.
Curioso pensar que um jovem que julgava ser o horizonte o limite, e que tinha como um de seus passatempos planejar o futuro, tenha essa história. Ao longo da minha infância e adolescência já quis ser ator, químico, biólogo, geneticista, astronauta, astrônomo, astrofísico, físico, psicólogo e físico, nesta ordem.
Já na faculdade de física, numa das primeiras aulas, houve um exercício para se calcular a média e mediana das idades dos alunos da classe. Meus colegas tinham 17, 18 ou 19 anos, e eu, em meus 22 anos e fora do desvio padrão, tive um pouco de vergonha da minha história e da falta de firmeza quando, pela primeira vez, pensei na física como plano de futuro. Depois me pensei ser simplista por ter sido contaminado por essa história idiota de que "você tem que entrar na faculdade com 17 anos".
Por certo que existe um período de tempo em que as escolhas são mais fáceis de serem feitas, mas seres humanos não são feitos em série, existe uma individualidade em cada um de nós, e é principalmente esse tempo que temos que levar em consideração: o tempo necessário para a maturidade. E assumir as conseqüências desse ritmo.
Lembro de uma historia que li sobre um pianista que após uma grande apresentação recebeu fãs em seu camarim, e um deles disse "eu daria minha vida para tocar igual a você". O pianista teria respondido "então faça, porque eu dei a minha". Esta é uma decisão difícil, e com a falta de experiência é possível confundir interesse com propósito de vida.
Esta talvez seja uma das decisões mais complexas que uma pessoa deve tomar, pois envolve abrir ao de uma série de outros prazeres em detrimento a um propósito, ao longo de anos de dedicação. Neste contexto, é difícil inclusive para adultos terem consciência da real significância dessa escolha, e não impressiona que adultos em formação sejam volúveis e receosos nesse momento.
Falando francamente, talvez eu não estivesse preparado para seguir a carreira de físico aos meus 18 anos. Não por não saber lidar com as dificuldades que a graduação em física iria me impor, mas pelo DESCONFORTO DA CURIOSIDADE de “como teria sido se eu tivesse me tornado psicólogo?”. Essa seria uma pergunta que me perseguiria por anos, ou talvez pela vida inteira. Mas após essa experiência tenho uma noção melhor da resposta, o suficiente para que ela não me venha à mente com angústia.
“Experiência”... gostei dessa palavra, pois penso que se encaixa perfeitamente com a fase dos meus 18. Uma fase de se experimentar, se colocar em prova e descobrir quais são meus legítimos interesses; sem dúvida um dos inconvenientes de pessoas que têm afinidade e facilidade por áreas muito diferentes, e o medo em não me focar em nenhuma delas, ficando apenas na superficialidade de um vasto conjunto de assunto é algo que ainda me assombra.
Hoje, NOVAMENTE, tenho um plano bem delimitado: quero me graduar em física e seguir uma vida acadêmica, realizando pesquisa sobre astronomia e alguma contribuição com divulgação científica. Trata-se de um investimento a longo prazo, que para bons resultados não me custará menos de 15 anos de esforço continuo, onde acredito que a caminhada também será muito prazerosa.
Já diziam os filósofos que a única constante no universo é a mudança, e acredito que nesse processo toda ajuda que vier deve ser bem vinda. Trata-se de um movimento difícil que repetidamente reconstrói nosso ser e nos permite VISLUMBRAR O MESMO CENÁRIO A PARTIR DE UM ÂNGULO DIFERENTE.
Abraços a todos!
Primeirão!!!!
ResponderExcluirGostei do texto, cara!
Já tô te seguindo!
abração!
brilhante, minucioso.
ResponderExcluirme identifiquei fácil!
beijos, rodrigo!
Rodrigo,
ResponderExcluirconfesso que me identifiquei com as coisas escritas nesse post. Eu entendo que algumas pessoas [e eu me encaixo nisso, acredito que vc tb] têm interesses muito múltiplos e escolher é algo bastante difícil. Confesso que vez por outra rolava uma certa inveja do coleguinha do lado que soube desde sempre que queria ser médico/veterinário/bombeiro/advogado. Acho a vocação uma coisa fascinante, mas não tenho. E vejo que você tem. E não tenho dúvida de que a mrlhor coisa a ser feita nesses casos é abrir mão das coisas [mesmo que sejam sólidas] em prol de algo que a gente sabe que vai ser melhor pra gente. [ah! vejo que você é um experimentalista tb, pq vou te dizer, ô coisainha que me atormenta esse tal "desconforto da curiosidade" rsrsrs]
Abçs! o/
[curti o seu blog, voltarei sempre!] =P
Esse texto é legal porque se pode perceber uma síntese de algumas características da sua personalidade nas suas palavras. Ou pelo menos do pouco que tive chance de conhecer dela até agora rs
ResponderExcluirÉ impossível saber o que se quer "para sempre". Somos 'multi-task' e parte de um todo; desse todo não conheceremos nem a metade ao longo da vida. É muito injusto você ter que escolher uma única coisa para se dedicar até o fim principalmente quando se é jovem. Somos tão capazes de tantas coisas e devemos nos ater a uma só? Está certo que essa única escolhida tem o seu infinito particular para ser explorado, mas "e passar pela vida sem saber o que é a medicina?" me perguntei aos 25... Não estava feliz de saber que minha escolha tinha sido feita baseada em comodidade somente. Foi o que me motivou a jogar tudo pro alto e voltar 10 passos certo de que darei 50 para frente. As pessoas me perguntam se eu de fato acredito ter só essa vida. Bem, com esse cérebro e as sinapses que a ele correspondem sim...
Somos parecidos nesse aspecto, só que descobri algumas coisas um pouco mais tarde rs O que importa é que a pessoa não fique estagnada achando que não existem soluções. Se você tem dúvidas se, agora mais maduro, sua felicidade está comprometida pela sua escolha, mude. Se lance e veja no que dá. É bem verdade que nem sempre é possível, mas se for então não há motivo para não arriscar.
Pelo pouco que te conheço, seja no que for, acredito muito que você tem condições de ser um sucesso em quaisquer áreas pelas quais tiver afinidade, por mais diferentes que sejam, visto que você tem características que fazem a diferença. Qualquer dia cito algumas pra você e seus botões rs
Gosto de como você escreve, consigo imaginar você contando pra mim ^^ Esses textos geraram pensamentos sobre diversas coisas bem diferentes entre si, gostaria de poder contar, mas tenho um problema em captá-los logo ou me concentrar somente em um pra poder contar agora xD passam muito rápido
ResponderExcluirNaty :***