sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Sobre "O fim da infância", de Arthur C. Clarke


Lembro bem do dia em que Arthur C. Clarke deixou de estar entre nós. Foi em março de 2008, e o seu verbete na Wikipedia virou blog, com diversos nerds (no melhor dos sentidos, ok?) postando mensagens saudosistas (o que foi prontamente categorizado como “vandalismo” pelos moderadores). O verbete não chegou a ser bloqueado para atualizações, como foi o de Michael Jackson, mas houve considerável comoção.
Clarke deixou um legado para a literatura ficcional, literatura não-ficcional, astronomia e para a esperança. Dentre seus trabalhos figura a obra original e a co-autoria do roteiro de “2001: Uma odisséia no espaço”. E a esperança? É que existem basicamente duas escolas dentre aqueles que pensam sobre a vida fora da Terra: a positivista, que tem Clarke, Sagan e Asimov como principais expoentes; e a pessimista, que está alcançando mais popularidade nos últimos anos, quando da ausência dos três mosqueteiros aí de cima (creio que um dos motivos para isso seja que os pessimistas não parecem contar com  literatura ficcional para divulgação de suas ideias – seriam seus enredos pouco interessantes?). Verdade é que se você acredita em extraterrestes inteligentes, então talvez você deva algo a Clarke.



Dessa vez os extraterrestres chegam a Terra para ficar. E é primoroso! Só assim posso definir esse grande trabalho de Clarke, “O fim da infância”, publicado em 1953, praticamente ainda no início de sua carreira profissional como romancista.
O livro é instigante, do início ao final, utilizando-se magistralmente do mistério como ingrediente principal da trama: por que esses visitantes nunca saem de suas naves? Qual seria sua forma física? Será que vieram de um outro planeta desolado e não têm outro lugar para onde ir? Será que são orgânicos ou são computadores construídos por uma raça, a muito esquecida, para explorar o universo? Ou serão humanos que visitaram a Terra milhões de anos atrás, deixando aqui alguns dos seus (ou dos nossos?) e agora vieram salvar seus filhos da destruição nuclear?
E quando algum desses mistérios é desvendado, eles parecem também de multiplicar, revelando outros muitos por explicar. Mas o grande mistério permeia a trama até quase a última página: “Por que eles estão aqui?”. Ainda assim, eles permanecem por mais de 150 anos.
No transcurso de sua estadia profundas mudanças ocorrem na sociedade: é criado o Estado Mundial; são abolidas as forças armadas (o que duplica a riqueza do mundo); as máquina encarregam-se sozinhas da produção de praticamente todos os bens e serviços; os homens passam a se dedicar exclusivamente a atividades de seu genuíno interesse ... e a ciência e a arte, criativas, praticamente desaparecem.
É um excelente argumento que enamora a psicologia da coletividade, encontrando argumentos convincentes sobre como nos comportaríamos se tivermos sobre nossas cabeças (literalmente!), uma raça sobre a qual apenas sabemos ser muito (!!) superior à nossa. 

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

O cinema do futuro, versão Clark. Os móveis do futuro, versão Ron Barth

Arthur Clarke brinca constantemente de ser futurólogo. Transcrevo para cá uma de suas previsões, essa sobre qual seria o futuro do cinema, extraída do livro "O fim da infância", de 1953.

"Primeiro o som, depois a cor, depois o estereoscópio, e depois o cinerama, tinham tornado o cinema cada vez mais parecido com a realidade. Como terminaria a história? Sem dúvida, o estágio final seria alcançado quando a audiência esquecesse que era uma audiência e resolvesse tomar parte da ação. Conseguir isso envolveria os estímulos de todos os sentidos e talvez, também, a hipnose, mas muitos acreditavam que valia a pena. Quando a meta fosse atingida, a experiência humana ficaria enormemente enriquecida. A pessoa poderia transformar-se - por um tempo, ao menos - em outra pessoa e poderia tomar parte em qualquer aventura concebível, real ou imaginária. Poderia até virar planta ou animal, se fosse possível capturar e gravar as impressões de outras criaturas vivas. E, quando o "programa" terminasse, a pessoa teria adquirido uma recordação tão vívida quanto qualquer experiência de sua vida real  entretanto, uma recordação impossível de ser adquirida na realidade."

Depois, aproveitando o clima de futurologia, acrescento um vídeo absolutamente recomendável que oferece pistas sobre como serão mobiliadas as casas do futuro (são 6min que abrem a cabeça). São engenhosos (!!) móveis multifuncionais que objetivam a economia de espaço. São comercializados pela Resource Furniture, cujo presidente é Ron Barth.