quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Deus para um ateu

Nesse post apresentamos uma entrevista concedida por Francisco Bressy Junior, psicólogo e ateu bem resolvido, onde conversaremos sobre religião, deus e seus símbolos, e do papel dessas instituições como formadores da identidade.

Nascido numa familia de religião plural, com o pai evangélico, a avó católica, e a mãe frequentando um centro de umbanda. Iniciou a primeira comunhão, mas foi na igreja evangélica onde mais se envolveu com o mundo da fé... antes de abandoná-la.



Rodrigo Amarante Colpo: Como foi o processo para que você abandonasse a religião?

Francisco Bressy Junior: Com o tempo eu comecei a perceber que a ideia de deus oferecida pela religião [evangélica] e a prática das pessoas eram incoerente com o meu deus, ou melhor, com a minha construção de deus. Deixei de conseguir estabelecer uma relação entre essas ideias: a ideia geral de deus, a minha ideia de deus, e a prática geral das pessoas. Deixou de fazer sentido pra mim.
Foi quando eu comecei a questionar os valores que eu tinha introjetado enquanto tinha deus em minha vida: não roubar, não matar, respeito ao próximo, amor. Foi essa a parte mais difícil, pois quando você cresce tendo a religião como referência, roubar passa a ser errado simplesmente porque deus castiga. É bastante simplório, mas deus passa a ser referencia do sim e do não. Do certo e do errado. Deus interfere de uma maneira muito ampla nos nossos valores.

RAC: A concepção de deus daria os princípios morais básicos para as pessoas se comportarem, e sem deus ficamos sem essas referências que partiriam do externo?

FBJ: É claro que esses não são todos os casos, é apenas uma fração deles onde as pessoas têm dificuldade em estabelecer esses princípios sem se referir a deus. Essas foram questões muito difíceis para um adolesce de 14 anos, que não tinha muitas referências sem ser essa. As pessoas que estavam a minha volta também tinham apenas essa referência. Foi bastante doloroso.

RAC: Quer dizer que para você conseguir estar firme nessa posição cética você teve primeiro que passar por essa reformulação de si? Ser capaz de criar os próprios princípios, baseados nas suas vontades, necessidades e desejos? A moral a qual as pessoas se apegam seria por não conseguir construir uma própria?

FBJ: Quando você começa a desenvolver a lógica, você logo percebe que deus não é lógico, mas consegue conviver com isso. Tipicamente passamos por essa fase de questionar o mundo na adolescência, e essa época foi fundamental para eu amadurecer e formar uma personalidade própria, assim como é para todas as pessoas, e as críticas sobre esses assuntos foram sim fundamentais para minha formação. Quando você usa deus como referência, você faz um tipo de construção. Quando você deixa essa ideia de lado, você tem que reelaborar seus valores.
Deus é uma ideia muito antiga. Quando o homem começa a ter uma relação diferente com o mundo daquela que têm os animais, passamos a ter como mediação entre as coisas e as nossas necessidades, o nosso pensamento, a abstração. Passamos a perceber o mundo de uma forma não imediatista. Surge a noção de tempo, de significado, de sentido, e ai eu penso que para esse homem antigo a ideia de deus surge como uma solução fantástica, uma estratégia para dar significado a tudo, porque ele começa a pensar o mundo e esse mundo é destituido de significado perante a morte.
Quando falo do meu ateísmo, a primeira questão que costumam me fazer é sobre a morte: “Então para você morreu, acabou?”. Eu entendo que exista uma dificuldade com essa questão, mas para mim isso nunca foi desesperador. Como disse, o mais difícil foi manter os valores que eu tinha construído sobre os alicerces de deus e da religião.
Então surgiria deus para dar significado a vida e introduzir reguladores sociais baseados na moral. Que outro animal tem a moral na estrutura social? É certo que há regras sociais baseadas na hierarquia, mas é completamente diferente. O homem tem capacidade para fazer perguntas ao mundo, mas se vê constantemente perdido na busca por respostas.

RAC: Há diversos círculos em que deus é utilizado sistematicamente como uma válvula de escape para quando a resposta parece inacessível. Dependendo do assunto em discussão, podemos ouvir com alguma frequência argumentos de autoridade que se resumindo a “porque Deus quer”. Mas a ciência já explica muitas questões que antes eram deixadas para deus, e vemos a ciência passar a ocupar, cada vez mais, um papel semelhante a da religião na vida de muitas pessoas, com o “porque um cientista falou”.

FBJ: As pessoas precisam de respostas, e elas buscam isso em toda parte.
Quando ao tópico anterior, parece que minha visão não explica tudo, porque temos ao longo da evolução humana, muitos milhares de anos, e houve um desenvolvimento cultural e biológico nesse meio tempo. Como se explicaria o apego a uma ideia tão antiga?
Quando se fala de desenvolvimento cultural de um valor que vai passando de geração em geração, como são exemplos os valores morais, falamos de ciclos muito difíceis de serem quebrados. E porque as pessoas não mudam no mesmo ritmo que o desenvolvimento tecnológico e científico? Simplesmente porque as velocidades de transição não são as mesmas, pois as novas tecnologias e a religião interagem com partes muito diferentes do organismo psicológico de todos nós.
Existem algumas teorias dentro da própria ciência que ajudam a explicar esse fenômeno. A herança multifatorial, por exemplo, fala da relação entre nossos genes e o meio ambiente, o que pode afetar o nosso comportamento. Os genes são os mesmos ao longo de toda a nossa vida, mas eles podem vir a ser ativados ou desativados de acordo também com fatores ambientais, sejam eles hormonais, infecciosos ou até do nosso estado de espírito. Ou seja, o ambiente é sim um critério de modificação gênica, que deixa marcas que vêm depois a afetar as próximas gerações.

RAC: A seleção natural, baseada na adaptação, fornece também algumas pistas sobre como a necessidade de deus pode ter passado através dos genes. Por exemplo, uma pessoa em risco eminente de morte e que acredita numa proteção, qualquer que ela seja, terá mais chances de sobrevivência que uma que pensa estar só. Ocorre que nossa mente evoluiu para ser lógica, e basicamente nos tornamos a espécie dominante devido ao nosso cérebro. Portanto, nós avaliamos probabilidades e prevemos comportamentos. Nessa situação de risco acreditar na sobrevalência da pequena chance de sobrevivência, devido a uma interferência externa, é uma vantagem evolutiva. Assim, aquele que crê tem, efetivamente, mais chance de sobreviver e passar seus genes adiante.

FBJ: Sim, é uma outra visão.

RAC: E se a crença em deus é geneticamente motivada, o que levaria algumas pessoas a acreditarem e outras não? Será que as pessoas que questionam a existência de deus não têm tantos apegos emocionais a essa ideia, ou tenham uma visão mais complexa do mundo?

FBJ: É muito difícil falar sobre isso porque pode parecer soberba, e a condição de quem acredita é a mesma de quem não acredita. Não somos diferentes uns dos outros. É apenas um posicionamento diferente que, na minha opinião, traz apenas uma elaboração emocional pouco maior sobre questões como o que é a vida e a morte. Mas isso não se reflete, necessariamente, para outras questões de mundo. Somos todos igualmente bons e competentes.

RAC: Mas é fato que existe uma diferença de paradigma a partir do qual você encara o mundo. Quais são algumas dessas diferenças?

FBJ: Acho que quem não acredita em deus é menos preconceituoso, não só sobre as religiões dos outros, mas também sobre outros aspectos aparentemente alheios à religião. Talvez eu esteja me tomando como exemplo, mas é fato que eu não me sinto pertencente a nenhum grupo especial. Eu não vou nem para o céu, nem para o inferno. Não acredito que meu destino seja diferente ao de qualquer outra pessoa. Não acredito em pecados, mas em relações simbólicas que as pessoas têm com o mundo. Por isso, me sinto pertencente e pertencido à Natureza, onde não há lugares especiais.
E isso é de cada um. Eu percebi que a ideia de deus não é valida para mim, mas para muitas pessoas deus e a religião são uma necessidade. Faz parte da forma delas de elaborar o mundo, e existe uma vantagem psicológica em acreditar em deus.

RAC: E será que as pessoas que crêem em deus acabam externalizando parte da responsabilidade das suas próprias vidas, seja quando pedem ou agradecem por alguma “graça”, como se não fossem elas as responsáveis, seja quando maldizem deus quando algo de ruim lhes acontece? E os ateus, não acreditando nessa entidade, acreditariam mais em si, quando se tornam inteiramente responsáveis por aquilo que fazem, sejam essas coisas ruins ou boas?

FBJ: Quando falamos em biologia, a quê isso lhe remete?

RAC: Ao estudo da vida.

FBJ: Sim. E se eu lhe falar de outros temas que lhe são familiares sempre haverá algo com o qual você associe, que está ligado com a forma como você se relaciona com o tema em si. E na psicologia uma questão fundamental é o simbólico, de forma que não posso afirmar que não acreditar em deus implica numa falta de responsabilidade pelos atos, embora tenha certeza que isso aconteça com alguns crentes.
Eu mesmo sou cheio de defeitos, como qualquer outra pessoa. Há momentos em que eu duvido daquilo que posso alcançar, mas tento acreditar nas minhas forças. Busco ter consciência dos meus defeitos e limitações, que podem ser de ordem genética, ou devido a minha história de vida. Mas o como se formaram as fraquezas e sucessos é irrelevante. O que importa é a relação simbólica que você estabelece com esses fatos, e deus é simbólico.

RAC: "Não importa o que fizeram com você. O que importa é o que você faz com aquilo que fizeram com você" - Sartre.

FBJ: Exatamente. O mundo é simbólico e algumas pessoas precisam de alguns símbolos. Não há problemas com isso. Entretanto, tenho dificuldade em lidar com pessoas que acreditam que a sua verdade é a verdade do outro, e me preocupam pessoas com um ferfor religioso exacerbado, pois essas pessoas geralmente têm certezas que querem impor aos outros. E eu também tenho as minhas certezas, mas são certezas diferentes. Elas têm que incorporar a ideia do outro ao seu mundo.

RAC: E a questão da morte, pode falar um pouco mais sobre isso?

FBJ: (risos) Quando eu era criança tinha um funk que dizia “morreu, fedeu”. Isso tinha uma mensagem: “morreu, acabou”. Mas na Natureza nada desaparece, apenas passa a existir de uma outra forma. O desespero das pessoas é em aceitar que passarão a existir no mundo de uma outra forma que não essa. Mas elas poderão até participar de outras formas de vida.

RAC: Sem dúvida a forma como nossa matéria passará a existir no mundo mudará depois da morte. Mas não te angustia a falta da TUA continuidade?

FBJ: Sou assumidamente alguém que deseja ter filhos. Acho que essa é a forma natural de continuidade. Não preciso buscar por outras formas fantásticas de alcançar essa continuidade.

RAC: “Ter um filho, escrever um livro e plantar uma árvore”. É sobre isso que estamos falando?

FBJ: Sim. Essas são formas de continuar no mundo. Pretendo um dia escrever um livro. Na verdade, não sei se tenho capacidade para tanto, mas sei que tenho capacidade para fazer um filho, então vou investir nisso (risos). Mas você também pode permanecer no mundo pela ação, pelo exemplo, lutando por um mundo melhor, e eu acredito que cultivo essas atitudes.

RAC: Você acredita que a morte trás angústia para as pessoas por pensarem que assim deixarão de fazer parte do mundo?

FBJ: O animal não pensa na morte, o animal só vive, ou seja, existe uma condição biológica em resistir à morte. Entretanto, o animal não tem o cérebro para elaborar essas questões.

RAC: Quer dizer que o cérebro poderia ter conferido a nós um instrumento para resistir à morte utilizando a figura de deus? Racionalizando assim a resistência biológica e natural à morte?

FBJ: Também. Deus tem vários significados, e esse é um deles. Acredito que os mais importantes sejam elaborar a morte e dar sentido à vida.

RAC: “O homem vive no mundo e pergunta pelo sentido da sua existência. É uma velha pergunta da humanidade que não poder ser reduzida ao silêncio. Vivemos e trabalhamos, suportamos encargos e cuidados, sofremos e alegramo-nos, experimentamos êxitos e renúncias, vamos envelhecendo e sabemos que  no termo está a morte. Para quê tudo isso? Vale a pena viver? Qual é o sentido do nosso existir?” – E. Coreth [citação completa introduzida posteriormente].

FBJ: Você pode significar sua vida das mais variadas formas. Muitos dos fanáticos religiosos resolvem devotar suas vidas para difundir sua fé, e nisso assumem um grande perigo, pois o que fazem os fanáticos quando alcançam seus objetivos, ou quando percebem que estão alicerçados sobre bases frágeis? Se perdem. Não saberão mais qual sentido dar ao próprio existir, e qualquer ameaça externa aos seus princípios norteadores é prontamente e violentamente rejeitada.
Mas questões de significado são de ordem muito pessoal e de elaboração muito difícil. Como eu não sou religioso, acho que pouca coisa tenho a dizer sobre isso.

[Se você gostou (ou não) do post, dê sua opinião nos comentários. É legal saber que alguém se interessa]

domingo, 26 de dezembro de 2010

As Melhores Fotos em Astronomia - 1/5

Esse é o primeiro de cinco posts onde vou dividir com vocês uma seleção muito particular que fiz das que considero ser algumas das melhores fotos do céu (asseguro que foi muito trabalhosa a seleção). 
A proposta é que a cada novo post as objetivas das câmeras fotográficas e sensores fotossensíveis dos telescópios foquem em objetos cada vez mais distantes. Acrescentei abaixo de cada foto uma pequena descrição, porque entender o que se está observando, nesse caso, faz parte da magia. 
Lembro que é possível clicar sobre as fotos para vê-las em maior resolução. Espero que gostem!

Nuvens, pássaros, Lua e Vênus: Foto tirada durante um pôr do Sol em setembro de 2010, quando Vênus era visto próximo a Lua crescente. Na parte inferior da imagem, há negras nuvens de tempestade, e acima, nuvens anvil tomam forma. Créditos: Isaac Gutiérrez Pascual

Nuvens noctilucent sobre a Suécia: Algumas vezes é noite no chão, mas ainda dia no céu: enquanto a Terra gira para encobrir o Sol, sua sombra se faz desde o chão, e vai, aos poucos, subindo às alturas. Geralmente esse fenômeno produz um belo pôr do Sol, mas quando as nuvens em questão são noctilucent, as mais altas nuvens formadas em nossa atmosfera, então você tem um momento espetácular! Créditos: P-M Hedén

Aurora sobre o Alasca: 2010 foi um ano de incríveis auroras (também chamadas de northern lights no hemisfério norte). Elas podem ser, a primeira vista, confundidas com nuvens a refletir o luar. Mas diferentemente de nuvens, a luz da aurora é própria, e ela não bloqueia as estrelas que estão por detrás. Auroras são formadas pela colisão entre partículas carregadas da magnetorsfera e moléculas do ar da alta atmosfera. Algumas delas são previstas para alguns dias após um grande evento magnético vindo do Sol. Crédito: Paul Alsop
Aurora e trilha das estrelas sobre o Canadá: Com uma câmera, um tripé e um bom tempo de exposição (ou a união de vários curtos) é possível capturar o movimento de rotação da Terra, tornado óbvio quando as estrelas parecem se alongar no céu. E se você estiver próximo aos pólos terrestres, você pode também ter a sorte a capturar belas auroras. (Foto tirada durante a madrugada de 1º de março) Créditos: Yuichi Takasaka / TWAN / www.blue-moon.ca
Eclipse total na Antártica: O Sol, a Lua, a Antártica e dois fotográfos, todos se alinharam durante um eclipse solar total em 2003. Quando a "inesperada" escuridão dominou, a coroa solar se tornou visível à volta da Lua. Créditos: Fred Bruenjes (moonglow.net)

Lua e planetas pela manhã: Numa só foto estão Mercurio, Vênus, Saturno e a Lua crescente, durante um amanhecer na Alemanha. Créditos: Stefan Seip (TWAN).
Folha, gelo e Orion: As partículas de gelo na folha parecem imitar as estrelas brilhando longe no céu. A grande estrela azul é Sirius, a mais bilhante do nosso céu. A azul menor é Riguel, e mais acima temos a gigante vermelha Betelgelse. Entre Riguel e Betelgelse, as três marias (que fazem parte da constelação de Orion e representa o cinto do caçador). Bem a esquerda, próximo de uma árvore, temos um meteoro, e atrás delas temos o risco de um avião. (Foto tirada com uma Canon em 42 segundos de exposição) Créditos: Masahiro Miyasaka

Noite estrelada em Foz do Iguaçu: Foto tirada em 4 de maio no Parque Nacional do Iguaçu, que faz fronteira com a Argentina. É muito nítido o braço de Órion da Via Láctea, onde está o Sistema Solar. Seguindo a Via Láctea, da esquerda para a direita, temos a Alfa (geralmente a mais brilhante da constelação) de Centauro e a Beta de Centauro; um pouco mais a direita temos o Cruzeiro do Sul e já bem a direita temos Sirius. Créditos: Babak Tafreshi (TWAN)

Gracioso Arco: O arco da Via Lactea começa e termina sobre duas montanhas, neste estrelado panorama. A esquerda temos a montanha californiana Lassen, e a direita a Shasta, justo abaixo do aglomerado de estrelas e poeira que indicam o centro da nossa galáxia. Ambos, Lassen e Shasta, são vulcões que fazem parte do Anel de Fogo do Pacifico. A imagem foi criada por um mosaico de 24 fotos, com tempos de exposição diferentes para o céu e o solo.
A estrada de leite: "Via Lactea" é uma expressão em latim que significa estrada/caminho de leite. É assim chamada pois os gregos olhavam o céu e viam ali leite derramado. Segundo sua mitologia, para que Hércules se tornasse imortal, ele deveria ser amamentado quando criança pelo seio de sua madrasta Hera, mulher de Zeus (chamado de Júpiter na mitologia romana). Hermes (Mercúrio, para os romanos), outro filho de Zeus, colocou a criança no seio de Hera enquanto ela dormia. Entretanto, Hera acordou enquanto amamentava e notou que estava alimentando um bebê desconhecido. A deusa empurrou o bebê e um jato de seu leite se espalhou pelo céu noturno, produzindo a faixa de luz conhecida como Via Láctea. Outras incríveis fantasias de Larry Landolfi podem ser vistas aquiCréditos: Larry Landolfi

quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Mecanismos complicados expressos em animações simples

Recebi por e-mail animações muito bem elaboradas que explicam o funcionamento de alguns motores. Gostei e compartilho, mas desconheço a autoria. (Para as animações que parecem não querer se animar, basta clicar sobre elas).


Princípio do Motor a Vapor: os motores a Vapor utilizados nas locomotivas mais antigas eram baseados no princípio da reciprocidade. Desenvolvido em 1698: 

Máquina de Costura: Basicamente, a máquina consiste num mecanismo que faz mover uma agulha na ponta da qual está enfiada uma linha que é em cada movimento de passagem pelo tecido enrolada noutra linha colocada numa bobine separada. O movimento pode ser feito manualmente, por meio de um pedal ou por um motor elétrico. Desenvolvido em 1790:

Mecanismo Maltese Cruzado: Este tipo de mecanismo é muito utilizado em relógios para comandar o movimento dos segundeiros. Desenvolvido em 1893:


Junta de Velocidade Constante: Este mecanismo é utilizado nos veículos de tração dianteira, como forma de transmitir tração mesmo com a torção das rodas (junta homocinética). Desenvolvido em 1926:


Motor Rotatório: Também chamado de motor Wankel, é um motor de combustão interna que possui um desenho único de conversão de pressão em rotação em vez de pistões recíprocos. Desenvolvido em 1957:


Caixa de Câmbio: O mecanismo também chamado de “Palanca de Mudanças” é largamente utilizado em automóveis para troca de engrenagens de tração de forma manual. Desenvolvido 1961:



Motores Radiais: São usados em aviões, possuindo uma hélice conectada ao eixo que disponibiliza a potência para produzir o empuxo necessário para mover o avião. Desenvolvido em 1970:




Sistema de Torpedos em Destroyers: Este mecanismo é utilizado em navios Destroyers para operações militares. Os modernos Destroyers começaram a navegar na década de 90.  


quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Brutalidade da Guerra (WikiLeaks)

Tenho acompanhado de longe a recente movimentação que tem havido em torno da Wikileaks, uma empresa sem fins lucrativos, sediada na Suíça, e que publica na rede material dito confidencial, por fontes que têm sua identidade preservada.
Para ver mais de perto o que está acontecendo à volta da WikiLeaks, fui direto à fonte, ou seja, em http://wikileaks.org/. Para minha surpresa, o site não carregou. Pensei por um momento que fosse minha conexão que tivesse caído, (o que, infelizmente, ocorre com alguma frequência) mas logo descobri que o problema não estava desse lado do roteador.
Fui encontrar o site da Wikileaks em http://213.251.145.96/. O endereço tem toda a cara de um protocolo FTP, mas é um "mirror". Quer dizer, alguém fez o download integral do site para disponibilizá-lo na rede. Loucura, não?
Pesquisando a respeito, encontrei a seguinte matéria, publicada pelo http://ultimosegundo.ig.com.br, que transcrevo excertos:

"O WikiLeaks anunciou nesta quarta-feira que a Amazon.com o expulsou de seus servidores, forçando o site a voltar para um provedor sueco.
O senador americano Joe Lieberman disse que a medida da Amazon.com foi tomada depois de membros do Congresso terem pedido na terça-feira à companhia que repensasse seu relacionamento com o WikiLeaks.
[...] As revelações do último lote de documentos publicados pelo WikiLeaks provocou um tumulto diplomático mundial, ao divulgar documentos secretos de embaixadas americanas na internet. As correspondências fazem parte do pacote de mais de 250 mil comunicações entre embaixadas e outros canais diplomáticos americanos aos quais o site WikiLeaks teve acesso e que começou a vazar no domingo."

Dois dias depois desse último "leak", em 30 de novembro, a Interpol emitiu o equivalente a uma ordem internacional de prisão a Julian Assange, o fundador da Wikileaks, por estupro de duas mulheres. Assange se entregou em Londres, e se defende afirmando que trata-se de uma prisão política, ressaltando que não pôde pagar fiança para ser libertado.
Antes desse disso, em 22 de outubro de 2010, o site publicou relatórios da Guerra do Iraque produzidos entre 2004 e 2009, e que segundo estudo feito pela agência de notícias IBC, há neles registradas cerca de 150.000 mortes violentas, sendo 80% de civis.
Para se ter uma relação menos "estatisticalizada" com esses dados, e ver "ver" as informações que o site vem publicando (esse no início de 2010), abaixo está um vídeo (resumido) em que soldados americanos, do alto de um helicóptero, matam 12 pessoas por confundir câmeras de jornalistas da Routers com armas. Recomendo fortemente que essas imagens façam parte do seu repertório cultural e que vivencies as emoções que ele proporciona:





É estranho quando é, de fato, um "filme da vida real", com "personagens" cuja tentativa de fuga não é encenada. É impossível ouvir falarem "Eu acho que [o tanque] acabou de passar por cima de um corpo" e "É culpa deles por trazer suas crianças para a batalha" sem ficar com um ódio no coração. Muito me chocou a liberdade com que essas vidas foram tiradas.
Dentre as diversas retaliações que o site vem sofrendo, figuram o bloqueio de seu acesso em território chinês, tailandês e dentro da Biblioteca do Congresso Americano. A Moneybookers e os cartões MasterCard e Visa também lhes fazem coro, deixando de receber doações destinadas à Wikileaks (apesar de aceitarem doações para a Ku Klux Klan).
Então, com o terceiro grande vazamento (os dois anteriores foram de documentos da Guerra do Afeganistão e do Iraque), o guerra do Oriente se reconfigurou num jogo de poder, onde uma série de instituições parecem estar estranhamente relacionadas: como diria o slogan do filme sobre o Facebook, "você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos". Com isso, a Amazon cedeu e os cartões capitularam. Mas qual o preço que nós, enquanto sociedade, devemos pagar por isso? Como pode o poder sobrepassar a lei para se fazer valer? Nesse jogo de mundo, os endinheirados e poderosos parecem ser uma grande quadrilha, onde todos têm o rabo preso, como a denúncia feita por Tropa de Elite 2, mas numa escala muito mais perigosa.
Sobre essa malha de poderes até o nosso ainda presidente dá seu pitaco:





"O rapaz estava colocando apenas o que ele leu. E se ele leu porque alguém escreveu, o culpado não é quem divulgou, o culpado é quem escreveu". Me parece um pouco ingênuo, mas, com certeza, não é de Assange a culpa de 80% das mortes no Iraque serem de civis.
Há também no Irã, Austrália, EUA e França autoridades que expressam suas opiniões sobre a WikiLeaks: "é uma organização terrorista estrangeira", "é irresponsável e ilegal",  "representa um claro e presente perigo à segurança nacional dos EUA", "é inaceitável que seu site esteja hospedado na França". Esses se referiam, muito provavelmente, ao vazamento de informação diplomática do último 28 de novembro. Entretanto, a WikiLeaks oferece apenas um espaço para a divulgação de documentos, garantindo o anonimato daquele que, de fato, obtém a informação, o que não é legalmente punível. (apesar do nome, a WikiLeaks não é editável como a Wikipédia).
Não ser punível por lei não significa que seja eticamente correto, e sobre a WikiLeaks há quem diga que ela é dolosa à democracia na divulgação de informações, tendo em vista que a democracia necessita da diplomacia, que diplomacia necessita da confidencialidade de comunicação, e que a Wiki teria violado tal confidencialidade. Entretanto, se há quem queira tornar público, gratuitamente, informações, também há aqueles dispostos a trocá-la com governos estrangeiros por um bom malote de dinheiro. Nesse cenário a Wiki evidencia falhas no sistema e talvez evite males que poderiam ser maiores.
Já o vazamento de informações de guerra, como o chocante vídeo acima, vem a reforçar a crescente opinião popular contrária a manutenção da guerra do Iraque, por ter agora argumentos de ordem moral mais robustos a somar com os de ordem econômica, que vêm afetando enormemente os cofres públicos estadunidenses.

Hoje os poderosos se debatem por verem desmantelada diversas de suas articulações políticas, e querem um culpado, querem uma cabeça. Na contramão, há milhares de usuários da web que fazem pressão a favor da liberdade de expressão, com ferramentas como a Avaaz.org, que apesar de popular e pacifista, já alcançou grandes vitórias, como acelerar a votação da Lei Ficha Limpa.
Agora me pergunto: quem irá vencer nesse cabo de guerra? Conseguirão evitar futuros vazamentos? (eu tenho um palpite)