quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

A Brutalidade da Guerra (WikiLeaks)

Tenho acompanhado de longe a recente movimentação que tem havido em torno da Wikileaks, uma empresa sem fins lucrativos, sediada na Suíça, e que publica na rede material dito confidencial, por fontes que têm sua identidade preservada.
Para ver mais de perto o que está acontecendo à volta da WikiLeaks, fui direto à fonte, ou seja, em http://wikileaks.org/. Para minha surpresa, o site não carregou. Pensei por um momento que fosse minha conexão que tivesse caído, (o que, infelizmente, ocorre com alguma frequência) mas logo descobri que o problema não estava desse lado do roteador.
Fui encontrar o site da Wikileaks em http://213.251.145.96/. O endereço tem toda a cara de um protocolo FTP, mas é um "mirror". Quer dizer, alguém fez o download integral do site para disponibilizá-lo na rede. Loucura, não?
Pesquisando a respeito, encontrei a seguinte matéria, publicada pelo http://ultimosegundo.ig.com.br, que transcrevo excertos:

"O WikiLeaks anunciou nesta quarta-feira que a Amazon.com o expulsou de seus servidores, forçando o site a voltar para um provedor sueco.
O senador americano Joe Lieberman disse que a medida da Amazon.com foi tomada depois de membros do Congresso terem pedido na terça-feira à companhia que repensasse seu relacionamento com o WikiLeaks.
[...] As revelações do último lote de documentos publicados pelo WikiLeaks provocou um tumulto diplomático mundial, ao divulgar documentos secretos de embaixadas americanas na internet. As correspondências fazem parte do pacote de mais de 250 mil comunicações entre embaixadas e outros canais diplomáticos americanos aos quais o site WikiLeaks teve acesso e que começou a vazar no domingo."

Dois dias depois desse último "leak", em 30 de novembro, a Interpol emitiu o equivalente a uma ordem internacional de prisão a Julian Assange, o fundador da Wikileaks, por estupro de duas mulheres. Assange se entregou em Londres, e se defende afirmando que trata-se de uma prisão política, ressaltando que não pôde pagar fiança para ser libertado.
Antes desse disso, em 22 de outubro de 2010, o site publicou relatórios da Guerra do Iraque produzidos entre 2004 e 2009, e que segundo estudo feito pela agência de notícias IBC, há neles registradas cerca de 150.000 mortes violentas, sendo 80% de civis.
Para se ter uma relação menos "estatisticalizada" com esses dados, e ver "ver" as informações que o site vem publicando (esse no início de 2010), abaixo está um vídeo (resumido) em que soldados americanos, do alto de um helicóptero, matam 12 pessoas por confundir câmeras de jornalistas da Routers com armas. Recomendo fortemente que essas imagens façam parte do seu repertório cultural e que vivencies as emoções que ele proporciona:





É estranho quando é, de fato, um "filme da vida real", com "personagens" cuja tentativa de fuga não é encenada. É impossível ouvir falarem "Eu acho que [o tanque] acabou de passar por cima de um corpo" e "É culpa deles por trazer suas crianças para a batalha" sem ficar com um ódio no coração. Muito me chocou a liberdade com que essas vidas foram tiradas.
Dentre as diversas retaliações que o site vem sofrendo, figuram o bloqueio de seu acesso em território chinês, tailandês e dentro da Biblioteca do Congresso Americano. A Moneybookers e os cartões MasterCard e Visa também lhes fazem coro, deixando de receber doações destinadas à Wikileaks (apesar de aceitarem doações para a Ku Klux Klan).
Então, com o terceiro grande vazamento (os dois anteriores foram de documentos da Guerra do Afeganistão e do Iraque), o guerra do Oriente se reconfigurou num jogo de poder, onde uma série de instituições parecem estar estranhamente relacionadas: como diria o slogan do filme sobre o Facebook, "você não consegue 500 milhões de amigos sem fazer alguns inimigos". Com isso, a Amazon cedeu e os cartões capitularam. Mas qual o preço que nós, enquanto sociedade, devemos pagar por isso? Como pode o poder sobrepassar a lei para se fazer valer? Nesse jogo de mundo, os endinheirados e poderosos parecem ser uma grande quadrilha, onde todos têm o rabo preso, como a denúncia feita por Tropa de Elite 2, mas numa escala muito mais perigosa.
Sobre essa malha de poderes até o nosso ainda presidente dá seu pitaco:





"O rapaz estava colocando apenas o que ele leu. E se ele leu porque alguém escreveu, o culpado não é quem divulgou, o culpado é quem escreveu". Me parece um pouco ingênuo, mas, com certeza, não é de Assange a culpa de 80% das mortes no Iraque serem de civis.
Há também no Irã, Austrália, EUA e França autoridades que expressam suas opiniões sobre a WikiLeaks: "é uma organização terrorista estrangeira", "é irresponsável e ilegal",  "representa um claro e presente perigo à segurança nacional dos EUA", "é inaceitável que seu site esteja hospedado na França". Esses se referiam, muito provavelmente, ao vazamento de informação diplomática do último 28 de novembro. Entretanto, a WikiLeaks oferece apenas um espaço para a divulgação de documentos, garantindo o anonimato daquele que, de fato, obtém a informação, o que não é legalmente punível. (apesar do nome, a WikiLeaks não é editável como a Wikipédia).
Não ser punível por lei não significa que seja eticamente correto, e sobre a WikiLeaks há quem diga que ela é dolosa à democracia na divulgação de informações, tendo em vista que a democracia necessita da diplomacia, que diplomacia necessita da confidencialidade de comunicação, e que a Wiki teria violado tal confidencialidade. Entretanto, se há quem queira tornar público, gratuitamente, informações, também há aqueles dispostos a trocá-la com governos estrangeiros por um bom malote de dinheiro. Nesse cenário a Wiki evidencia falhas no sistema e talvez evite males que poderiam ser maiores.
Já o vazamento de informações de guerra, como o chocante vídeo acima, vem a reforçar a crescente opinião popular contrária a manutenção da guerra do Iraque, por ter agora argumentos de ordem moral mais robustos a somar com os de ordem econômica, que vêm afetando enormemente os cofres públicos estadunidenses.

Hoje os poderosos se debatem por verem desmantelada diversas de suas articulações políticas, e querem um culpado, querem uma cabeça. Na contramão, há milhares de usuários da web que fazem pressão a favor da liberdade de expressão, com ferramentas como a Avaaz.org, que apesar de popular e pacifista, já alcançou grandes vitórias, como acelerar a votação da Lei Ficha Limpa.
Agora me pergunto: quem irá vencer nesse cabo de guerra? Conseguirão evitar futuros vazamentos? (eu tenho um palpite)

4 comentários:

  1. Repararam na imagem em alta definição da declaração de Lula? É cinematográfica!

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  2. Podem perseguir o Assange à vontade. Isso não vai parar os vazamentos de informação.

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  3. O Lula podia colocar um narizinho vermelho embolotado. Cairia melhor.

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  4. Visa e Mastercard se superaram com essa. http://www.buzzmachine.com/2010/12/07/just-saying/

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