sexta-feira, 20 de agosto de 2010

De quando a falta de respeito quis me bater

Sabe aquele dia que eu postei o link de "Creep" no Twitter? Pois bem, naquele dia eu quase achei que fosse apanhar na rua. Vou contar a história para vocês.



Num dia como qualquer outro, eu atravessava a rua na faixa de pedestres, enquanto o semáforo estava fechado. Também atravessava a rua uma senhora idosa deficiente visual, guiada por um senhor velhinho, talvez seu irmão ou marido. Os dois, de fato, iam devagar e os ultrapassei sem prestar muita atenção. Mas quando cheguei do outro lado da calçada entendi o que dizia um dos tantos barulhos que a cidade sabe produzir. Gritava-se: "atropela, atropela, atropela!". Isso chamou minha atenção, e me voltei para saber quem e porquê falavam aquilo. Como não podia deixar de ser, o coro vinha de um carro abarrotado de jovens estúpidos, que parecem se sentir sempre muito mais engraçados e corajosos quando estão em grupo. E gritavam "atropela, atropela, atropela" para os velhos (lembro que a senhora era cega).

Eu vendo aquela situação, fiquei muito transtornado com tal falta de civilização. Apontei do dedo (cheio de coragem) para o carro e gritei "Vocês ai!! Vocês são uns babacas!". Isso gerou uma tremenda confusão entre aqueles moleques de 25 anos, alguns parecendo muito dispostos a sair do carro para me pegar. Mas, felizmente, esse impasse foi resolvido em uns 7 segundos, quando o sinal abriu e A motorista não fez questão nenhuma de ficar parada ali.

Na hora eu estava ali, pronto para apanhar, mas depois fiquei muito triste com a situação... e postei "Creep". Me pergunto, que sociedade doida é esse que não respeita seus pais? Ou antes, que não valoriza aqueles que parecem não lhe representar utilidade?

Crítica de “Jorge e o Segredo do Universo”, de Lucy e Stephen Hawking


Após ler uma critica positiva sobre o livro, me deparei com ele na Saraiva, e o comprei por R$ 41,90. Pode parecer caro, mas tem-se que levar em consideração o impecável acabamento que a capa recebe (partes em relevo, num fundo só falta brilhar no escuro), dezenas de imagens coloridas impresso num papel bacana (esses direitos impressão são uma fortuna!) e ilustrações muito cuidadosas que dão um ar lúdico e interessante ao livro (fiquei feliz com a perspectiva de voltar a ler um livro com figurinhas). Por fim, há o nome de Stephen Hawking como co-autor do trabalho, uma pessoa cuja produção intelectual eu mais que respeito.

E a proposta do livro é ótima! Seria um livro de ficção voltado ao público infantojuvenil que se propõe a ensinar física e astronomia de uma maneira divertida. Entretanto, comprei, li e achei que o livro não conseguiu cumprir com a proposta, apesar de toda ar de superprodução que o cerca. Dizem ser o melhor do tipo, mas a autora (filha de Stephen Hawking, cuja participação na obra deixa dúvidas) consegue emaranhar de tal forma conceitos de física e outros que servem apenas para compor o cenário que, para uma criança, fica realmente difícil entender o que é ou não científico.

O argumento o livro também não é muito brilhante, com passagens muito óbvias e outras tão forçadas que me peguei perguntando: “não haveria uma outra forma mais normal de isso acontecer?”. Mas os autores têm seus bons momentos e são capazes de realizar construções que acredito só ser possíveis àqueles que realmente fazem ciência, como é o caso do “Juramento do Cientista”, que transcrevo:

"Juro usar meu conhecimento científico para o bem da Humanidade. Prometo jamais causar dano a pessoa alguma na minha busca de sabedoria. Serei corajoso e atento [em] minha busca de maiores conhecimentos a respeito dos mistérios que nos cercam. Não usarei o conhecimento científico em proveito próprio, nem o cederei aos que procuram destruir o maravilhoso universo em que vivemos. Se eu quebrar este Juramento, que a beleza e a maravilha do universo permaneçam eternamente ocultas para mim." (HAWKING, L. & HAWKING, S. George e o sefredo do Universo. 46-47. Ediouro. 2007.

Realmente brilhante!

A edição da Ediouro, que vai na segunda reimpressão, ainda conta com alguns errinhos, como o caso da frase “A princípio ficou satisfeito por ter não poder vê-la”, onde claramente tem um “ter” sobrando. Uma falta de cuidado da editora, que parece ter escalado um único revisor.

Ainda assim, foi uma boa leitura, e acho que poderia vir a ser um bom presente para um juvenil com interesse inicial por questões relacionadas à astronomia (também tem a questão de não haver outros para recomendar).

sábado, 14 de agosto de 2010

Relíquias do passado

Passei os últimos quatro dias revirando todos os meus pertences. Troquei posição de móveis, tirei quadro da parede, coloquei quadro na parede, fotografias, poster, cartões postais e prateleiras. Comprei várias coisas legais que não conseguia mais viver sem e cortei o cabelo (agora estou parecendo um soldadinho orelhudo).
Algumas coisas mudaram e muita coisa foi pro lixo. Mas esse post é pra comemorar das relíquias que foram encontradas. Eis uma abaixo, de quando tinha 16 anos e a professora de filosofia pediu para comentar uma frase de Aristóteles. Senti orgulho de mim mesmo.


"Somos aquilo que fazemos consistentemente. Assim, a excelência não é um acto, mas sim um hábito" - Aristóteles.

"Somos aquilo que fazemos consistentemente". Essa frase diz que nosso presente é a construção do que fizemos ao longo de nossa história, que nosso hoje é uma consequência do ontem, num encadeamento que não se pode fugir. Que nossa maneira de agir reflecte a maneira do pensar, nossa mentalidade e personalidade, pois o que nos torna humanos é justamente a característica de não termos apenas um caminho, mas sim, SEMPRE, uma pluralidade de caminhos e escolhas a fazer e que traçam o rumo do nosso futuro. Nossas escolhas são o que nos definem, não apenas para o expectador externo, mas principalmente para o sujeito da ação.
"Assim, a excelência não é um acto, mas sim um hábito". Essa segunda parte da citação oferece uma definição para "excelência". Ao articulá-la com a primeira parte, percebemos que a excelência é atingida quando agimos como nós próprios, e não como pessoas volúveis, que mudam de opinião assim como quem muda de roupa, e com sorrisos e palavras amargas faz de ventríloquo a interesses que se põem como mais importantes que a retidão de caráter.
Concluindo, esta frase sugere que o melhor comportamento é atingido quando agimos de acordo com a nossa própria moralidade, dizendo aquilo que pensamos, revoltando-nos quando não concordamos com algum pensamento e sendo, acima de tudo, honestos com nós mesmos. Quando mesmo no turbilhão das emoções ainda lembramos que podemos escolher por sermos nós mesmos. Essa posição está em sintonia com a defendida pelo padre António Vieira, que defende o "ser" e não o "parecer", sendo, por isso, contra as diversas máscaras utilizadas por pessoas oportunistas que não têm coragem, e nem lhes é conveniente, assumir uma posição e manterem-na, mudando conforme as oportunidades se apresentam melhores ou piores.

Rodrigo Colpo, 11º ano, Liceu São João do Estoril.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Fragmentos de São Paulo

Por um momento quis começar esse post com “Conheci São Paulo”, mas isso denunciaria a qualquer pessoa que eu a conheço muito (!!) menos do que acredito conhecer.
Pois bem... estive em São Paulo!! e gostei. Posso até ter tido a sorte de nos dias em que lá estive ser período de férias, quando dois (eu disse dois!!) milhões de habitantes da terceira maior cidade do mundo se deslocam ao litoral, deixando o tráfego mais fluido e a cidade menos muvucada. Tem também a variável de ter sido num final de semana, quando alguns paulistas param para respirar... mas o fato é que adorei São Paulo e os paulistas. É uma grande cidade que tem êxito em encontrar soluções inteligentes para estar limpa e organizada num ambiente que poderia facilmente ser caótico.

Abaixo alguns fragmentos que colhi na minha curta hospedagem nessa cidade que me recebeu tão bem.


Museu da Língua Portuguesa



Fiquei logo bem impressionado com a fachada do prédio (onde fica também a Estação da Luz), mas esperava mais da exposição permanente. Ao menos era essa a impressão até chegar a Praça da Língua que encerrou no melhor estilo a exposição. De uma só vez fui exposto à nata da poesia e literatura brasileiras, explorados magistralmente num ambiente acolhedor que à meia-luz parece plasmar emoções com efeitos de som, imagem e contexto. Abaixo um desses trechos que tanto mexeram comigo, extraído do livro Memórias de Emilia (1936), de Monteiro Lobato, um diálogo entre Emilia e Sabugo. Fiquei com os olhos úmidos.

"...a vida, Senhor Visconde, é um pisca-pisca.
A gente nasce, isto é, começa a piscar.
Quem pára de piscar, chegou ao fim, morreu.
Piscar é abrir e fechar os olhos - viver é isso.
É um dorme-e-acorda, dorme-e-acorda, até que dorme e não acorda mais.
A vida das gentes neste mundo, senhor sabugo, é isso.
Um rosário de piscadas. Cada pisco é um dia.
Pisca e mama;
pisca e anda;
pisca e brinca;
pisca e estuda;
pisca e ama;
pisca e cria filhos;
pisca e geme os reumatismos;
por fim, pisca pela última vez e morre.
- E depois que morre? - perguntou o Visconde.
- Depois que morre, vira hipótese. É ou não é?"


Pianos de Rua

Após sair do museu embriagado de emoções vívidas, me dirijo a Estação [metro-ferroviária] da Luz, cuja estrutura, alias, abriga o Museu. Era para ser apenas um lugar de translado, mas me deparei com rica estrutura arquitetônica estruturada em ferro fundido que, segundo soube, tem toda origem inglesa. A “estação” foi levada até São Paulo em peças pré-moldadas, e montadas no local (deve ter sido bem caro).
Mas o que mais me chamou a atenção foi o projeto “Pianos de Rua: toque-me, sou seu”, idealizado pelo inglês Luke Jerram. O projeto colocou a disposição de qualquer pessoa um piano, isso mesmo, um piano. Qualquer um que tenha a coragem suficiente pode sentar no banco e tentar tocar uma música. É um projeto lindo que mobiliza grande parte daqueles que por ali passam, e lhes faz diminuir o ritmo da maratona para prestar atenção no que está a ser tocado, nem que seja para por apenas uns segundos. Eu, que ultimamente não tenho passado um mês sem voltar ao Municipal e que sou um pianista frustrado, amei o projeto, o piano, os pianistas e cada um dos que procuravam um pouco de alento nas suas notas.
Ao que parece, quando do início do projeto, gerou-se um grande alvoroço a dizer que os pianos seriam depredados, pichados e roubados, pois não haveria para eles nenhuma segurança especifica. Mas nada disso aconteceu, e olhe que o projeto é anterior a 2008. Gostaria de ver essa experiência aqui no Rio e me surpreender também com os cariocas.



Então percebi que São Paulo aguardava com muito mais do que supôs.

O cinema que não fui

Visitar uma das duas salas cinema IMAX que existem no Brasil é a principal pendência que ficou para a próxima incursão à cidade que nunca dorme. Dessa vez não consegui visitá-la porque todos os ingressos para todas as sessões de três dias consecutivos estavam esgotados. Isso me deixou meio tristonho, pois era uma das atrações programadas. Mas como imaginaria que havia tanta gente querendo ver Shrek 3 na maior tela dentre as grandes telas nacionais?
Para quem ainda não sabe, IMAX é uma tecnologia diferenciada para a projeção de filmes em grandes formatos, e li (queria também poder escrever!) que oferece uma experiência diferenciada do que há rotineiramente por aí.
Abaixo uma comparação entre tamanho de telas de cinema.



O Unibanco IMAX fica na Rua Turiassú, 2.100, 3º piso, Shopping Bourbon Pompéia.


Festival das Estrelas / Tanabata Matsuri

Esse é o nome do festival que conheci lá no bairro da Liberdade. Mas antes, vamos fazer uma pausa para “contar” uma história pra vocês:

"Uma antiga lenda, criada há quatro mil anos e inspirada nas estrelas Vega e Altair, conta a história de uma certa Princesa Orihime e seu amado Kengyu.
A Princesa Orihime era uma excelente tecelã e confeccionava a mais perfeita seda de que se tinha notícia. Preocupado com sua excessiva dedicação, o rei ordenou que ela se distraísse, dando passeios diários pelo reino. Em uma dessas ocasiões, Orihime conheceu o pastor Kengyu e os dois se apaixonaram.
Esquecendo-se completamente de suas obrigações, a princesa tecelã e o pastor dedicaram todo o tempo a esta paixão e por este motivo foram castigados, sendo transformados em estrelas e separados pela via láctea. Comovido com a tristeza do casal, o Senhor Celestial permite um único encontro anual entre os dois, num dia de julho.
Em agradecimento à dádiva recebida, o casal atende aos pedidos feitos em papéis coloridos (irogami) e pendurados em bambus (sassadake)".

E adivinhe em qual mês fui à liberdade? Julho! Na verdade, no segundo e último dia da festa. Era o acaso conspirando novamente ao meu favor :-)
É uma festa linda que existe em São Paulo desde 1979, mas que remonta há 1.300 anos atrás no Japão. Grande representação do folclore oriental, reúne literalmente milhares de pessoas, que escrevem seus pedidos e os penduram nos bambus espalhados pela rua Galvão Bueno (porque mesmo a principal rua da Liberdade tem esse nome?). Fiquei quase uma hora a ler e me deliciar (ninguém falou que não podia) com os mais diversificados desejos tão íntimos e belos de completos desconhecidos. Deveria ter copiado alguns dos que me emocionaram para lhes mostrar. Deveria tê-los fotografado, filmado, foto-copiado, mimeografado. Queria poder mostrar a vocês o quão privilegiado me senti naqueles momentos.



Mas roubar um pra vocês eu não poderia, porque os “sassadake” (nome dos papéis coloridos) ainda precisavam ser enviados ao casal apaixonado que habita as estrelas. Todos os pedidos são colhidos dos pés de bambu, postos em balões de gás e enviados ao ar, numa linda homenagem que colore os céus da capital de amarelo (para os pedidos de dinheiro), azul (proteção dos céus), branco (paz), rosa (amor), verde (esperança), e vermelho (paixão).


Exposição Corpos

Essa grande exposição é um upgrade da exposição “Corpo Humano” que passou aqui pelo Rio e antes disso, em São Paulo. Essa versão está muito mais madura, com mais “peças” criadas com novas técnicas de mumificação e dessecação. Dentre todas, a que mais me impressionou, foi a de um homem, cuja musculatura estava quase intacta, de mãos dadas com seu próprio esqueleto completo. Não encontrei uma boa foto dessa “peça”, mas teu uma outra boa abaixo.




E essas “peças” não são de plástico... são de criminosos chineses condenados a morte que “doaram” seus corpos para essas pesquisas. Em tempos de Sakineh (a tal iraniana) issa é uma informação relevante.



Avenina Paulista


E eis que passeando pela Paulista me deparo com um casal de apaixonados que recém trocaram as alianças! Estavam lá, a mulher de véu e grinalda num lindo vestido branco, e o homem num esmoquem bem alinhado. Parece que aproveitavam a Lua cheia para tirar fotos junto a um dos cartões postais da cidade, para depois mostrar aos netinhos. O amor estava no ar!




Fiquei imaginando o porque de a Paulista ser para eles um lugar romântico. Será que foi naquelas calçadas que o acaso encontrou dois capazes de se amar mutuamente? Será que para um novo começo revolveram voltar para onde se tornaram cúmplices pela primeira vez? Será que era para aquelas esquinas que eles fugiam para encontrar um ao outro? Sei apenas que fiquei com uma invejinha boa daquele envolvimento.


Peça "A Alma Imoral"

Ir ao teatro assistir essa peça foi guardar para o final o que havia de melhor. Foi tão bom, mas tão bom, que vou depois dedicar um post inteiro para as reflexões que surgiram. Mas posso adiantar que trata-se de um monólogo denso que flerta intimamente com questões existenciais incorporando nos momentos certos um bom-humor sarcástico. Linda peça.



Thaks to Zé por me acompanhar na jornada.