domingo, 13 de junho de 2010

"Einstein" no Rio!


"Einstein" é o nome da exposição que rolou no Museu Histórico Nacional - Rio de Janeiro – entre abril e junho. Foi uma exposição mega interessante, originalmente montada pelo Museu de História Natural de NY, trazida ao Brasil pelo Instituto Sangari, e que agora vai abarcar em Vitória. Portanto, capixabas, não deixem para o último dia (que é um caus), e vejam a exposição com toda a calma que ela merece (umas 3 horas).
Essa foi minha primeira experiência com monitorias em exposições, e foi muito significativa. Adorei ser um daqueles com uma camisa azul escrito “educador”. Acompanhávamos a criançada nas explicações sobre relatividade, buracos negros, energia e o bruxo mau (esse era Hitler). Sempre gostava de estabelecer esse diálogo com os escolares, e acreditar que eu estava acrescentado algo ao mundo deles. Me fez bem!
Na exposição aprendi também que Einstein não era nem aluno brilhante na escola, nem matemático brilhante na carreira; que tinha uma letra que beirava e ilegibilidade; que teve duas esposas e que não foi fiel a nenhuma; que teve três filhos, dois dos quais morreram, e o que sobrou disse “provavelmente o único projeto a que meu pai abriu mão foi eu”; que escreveu a carta que talvez tenha dado origem ao projeto Manhattan, responsável pela construção da bomba atômica; que diversas vezes negou o que as equações estavam lhe indicando, tendo como argumento a isso o “senso comum”; que passou décadas lutando contra a física quântica e que morreu sem saber que estava errado; e que em poucos anos conseguiu acumular prestígio científico suficiente para passar quase trinta anos pesquisando sobre uma teoria que nunca deu resultados, sendo pago por isso.
Isso para não falar que em 1905 já havia, há anos, uma série de evidências experimentais (experiência de Michelson-Morley) e teóricas (equações de Maxwell) a apontar para a teoria da Relatividade Especial. Einstein, por estar atento a essas discussões, parece ter sido aquele capaz de juntar os cacos das informações já dispersas e montar uma estrutura teórica que as explicasse.
Mas calma, calma!! Não achem que estou menosprezando essa grande personalidade. Só quis pegar-lhe um pouco no pé para não repetir somente o mesmo rosário de elogios. Pois bem, agora falemos das coisas que valem mais a pena de serem lembradas.
Einstein ousou pensar de forma diferente a gravidade newtoniana. Propôs, em 1915, teoria revolucionária na qual a gravidade deixa de atuar como força e passa a ser uma distorção do espaço-tempo, tornando-o mundialmente conhecido depois de sua confirmação em 1919, na cidade de Sobral, Brasil. Admiro não apenas a teoria e suas implicações, mas também a história de sua formulação, que não foi fruto de um momento de inspiração, mas de anos de trabalho árduo, que mereceram do autor o seguinte comentário: “A Relatividade Especial, ao lado da Geral, parece brincadeira de criança”. Essa é das características mais marcantes de seu trabalho acadêmico: a persistência num campo de trabalho que se mostra constantemente árido, onde os resultados parecem fugir por entre os dedos.
Esse e outros trabalhos têm grande influência inclusive nos dias de hoje, pois trouxeram a base teórica para a criação do laser, da máquina digital, da precisão do GPS, dos painéis solares, da radiação de luz sincroton, dentre outros.
Entretanto, o que mais me chama a atenção é a sua atuação enquanto homem político. Diferentemente dos padrões que geralmente temos de um cientista, esse ministrava palestras não apenas sobre suas teorias e o progresso da ciência, mas fazia questão de falar sobre suas convicções pacifistas. Trocou cartas com Freud (que ficou espantado com essa iniciativa) e Gandhi. Assinou e divulgou manifesto pelo fim da primeira guerra, e depois pelo desarmamento nuclear. Escreveu centenas de cartas de recomendação para que refugiados de guerra pudessem ingressar nos EUA. Se opôs abertamente a perseguição aos comunistas encabeçada pelo senador Joseph McCarthy. Escreveu contra o serviço militar obrigatório. Defendeu inclusive a paz mundial através da constituição de um governo mundial, argumentando que enquanto os governos nacionais fossem a instância máxima de poder, ela não se viabilizaria, podendo ser a ONU uma instância transitória a esse governo.
Costumo pensar que geralmente as pessoas se significam na coletividade. Mas existem algumas raras que conseguem influenciá-la diretamente. São pessoas que durante o curto tempo de uma vida produzem marcas positivas suficientes que multiplicam, ecoam e impulsionam a humanidade a, juntas, darem um passo adiante. Einstein parece ter sido uma dessas pessoas.

4 comentários:

  1. Muito bom o texto. Conseguiu fazer um apanhado geral que transmitiu exatamente as impressões que tive com a exposição. E concordo que Einstein tenha sido uma dessas pessoas cujas marcas positivas são tão relevantes que impulsionam toda Humanidade. Realmente admirável.

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  2. É, concordo com o Gabriel aí de cima. Minhas impressões sobre a exposição foram mais ou menos por aí mesmo. O que eu acho mais legal de tudo isso é que, mesmo a despeito de sua fama e prestígio, Einstein não se encerra na imagem de "apenas um cientista". É, além disso, um Humanista, na melhor das acepções. Acreditar na força e na virtude do ser humano, mesmo com todas as evidências em contrário. é algo respeitável, em qualquer tempo.

    Abçs! o/

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  3. Cara... muito bom!! Conheci um pouco mais a Einstein, que para mim era um pouquinho mais do uma lingua para fora em desenhos estilizados. Parabéns pelo texto, excelente, e desculpe pela minha ignorancia, afinal escolhi outro caminho que não a fisica, apesar de ter afinidades. Abração!!

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