segunda-feira, 19 de julho de 2010

Luto de morte vs. Luto de amor

Além desse blog não ser para fazer críticas de cinema, também não é para falar de questões do coração... mas é espaço para deixar fluir as letras.
Um bom amigo meu (@silentangelrj) certo dia falou que existem 5 estágios para o luto da morte, são eles: negação, revolta, barganha, depressão e aceitação.
Abaixo um pequeno vídeo pra mostrar um pouco como funcionam essas fasses e para dar umas risadas. Diversão garantida.



Essas fases me pareceram imediatamente similares àquelas experimentas quando se termina uma relação amorosa, sem entrar na discussão do por quê.
Com isso em mente criei um pequeno texto, no modelo carta (ou e-mail?), para cada uma dessas fases enquadradas como típicas do luto de morte, mas escrito para o luto de amor (tomei especial atenção a última dessas fases).
Pensei como personagem a escrever as cartas uma jovem mulher (acho que, nessas circunstâncias, são personagens emocionalmente mais ricos) que teria se apaixonado verdadeiramente pela primeira vez em sua vida, e que viu chegar o fim de sua relação. Começando pelo princípio:

(0) Paixão

Uma (grande) mensagem de celular:

Por diversas vezes ao longo dos dias as lembranças de nossos momentos me vêm a mente, e me tiram um sorriso que acalenta o coração. Mas hoje você esteve também na minha noite, em meus sonhos doces. Queria voltar lá com você, num sonho compartilhado, a escutar a melodia que só é alcançada quando dois que se amam se tocam. Num lugar onde a existência do tempo não traz de arrasto as responsabilidades da idade. Onde é permitido pedir um break para curtir cores, formas, cheiros, e respirar fundo sem descontar do tempo total de vida. Me apartar da síndrome da velocidade e te levar comigo para um estado de consciência em que o tempo fosse apenas um instante atrás do outro.
Obrigado por cada pétala que deixas em meu caminho, por colorir com seu olhar e seus beijos meus finais de tarde e meu estado de espírito. És importante. O mais importante. Bjs grande, para meu eterno amigo e confidente: meu namorado.

P.S.: Frase do dia: "Se o céu que vemos lá em cima / Desabasse e caísse / Eu não choraria, eu não choraria / Não, eu não derramaria uma lágrima, / Enquanto você estiver, estiver ao meu lado". Pra minha endorfina de estimação.


(1) negação:

“Oi meu... Hoje faríamos seis meses, e parece impossível me olhar no espelho sem lembrar de você. Como se a imagem que construí de mim mesmo estivesse integrada a sua. Bjs...”


(2) revolta:

Sorry, não consegui entrar na sintonia para um bom texto dessa sensação. Se quiser, escreva um e eu coloco entre aspas.

(3) barganha:

Tenho percebido que a conversa que tivemos há duas semanas foi das mais honestas que tive em toda a minha vida, e algumas frases me têm voltado. Especialmente a que diz "eu vou te amar para sempre!". Talvez seja meio loucura, mas tenho cada vez mais confiança de que ela é sensata. E enquanto a poeira das confusões abaixa, essa é a marca que fica. A cada novo dia tenho mais certeza disso.
Você deve se lembrar também da noite em que te disse "você foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida". O momento em que falei isso passou, a sensação de descontentamento passou, a inconformidade passou. Entretanto, a frase ainda é valida. Você foi a melhor coisa que já aconteceu em minha vida.
Escolhi dizer isso hoje por que esse é o seu aniversário, e é importante para mim que te sintas importante. Não se trata exatamente de uma paquera fora de hora, só uma constatação, que não acredito que vá mudar. Queria deixar claro que eu não mudaria nada na nossa história, que você é alguém legal, e que sabe proporcionar bons momentos na companhia de outros. Não estou em nada arrependida de ter vivido nossa história.

Achei simplesmente justo que você soubesse que valeu a pena.
Para sempre...


(4) depressão (interiorização):




(Goodbye My Lover de James Blunt. Parece que durante um tempo essa música foi a mais tocada em velórios nos EUA. A letra é linda, e relata muito bem essa fase do luto, seja de morte, seja de amor.)

Poema de Maykelle souza:
"Agora!
Restou o vazio!
Essa saudade, essa vontade de ter, o que eu não posso ter.
Que loucura!
Esse sofrimento, que se prolonga a cada toque do telefone,
Solidão que não passa.
Fendas que nada pode preencher,
Vazio, que nada pode ocupar

"Quanta dor, até me confundo.
Agora sei que o amor e a dor andam juntos.
Lágrimas brotam do coração, e molham o meu rosto
Cada vez que sua lembrança vem em mim.
Lágrimas que você não vê!
Sofrimento que você não viu.
E agora me sinto tão abandonado, tão só.
E você onde está?
Certamente estás nos braços de outro alguém.
Alguém que não sei se será capaz de te amar como eu.
Quanta saudade!"

"Saudade de um sonho não sonhado,
de um amor que existiu e não foi realizado,
Queria tanto ouvir sua voz novamente.
Sua voz dizendo "fica comigo".
Mas essas palavras são minhas.
Na verdade eu estou aqui.
Implorando por ti...
Por um pouquinho de você.
Não sei se realizarei os meus desejos de te ter outra vez,
É, pelo menos em meus sonhos eu tenho você.
Pensei em algumas coisas, para te dizer:
Por isso amor, vou me resumir:
Eu nunca vou te esquecer, por que te amei, e ainda amo você."

P.S.: Fala comigo...

(5) aceitação:

Tenho pensado muito sobre se deveria lhe escrever, e o quanto ainda vale a pena mexer nessa nossa história. Mas decidi colocar para fora essa carta para demarcar um momento, para que ao chegar ao final desse texto fique claro que chegou também ao final da nossa história, sem mais pesares, sem mais voltas, sem mais arrependimentos. Para me sentir livre a virar a página e escrever minha próxima história de amor (com um final feliz), pois só o que posso fazer é seguir, e superar, como sempre o tenho feito... com a mudança dos planos de tê-lo ao meu lado, e de me teres ao teu.

De fato lhe amei, e a cada um dos novos encontros, enquanto nossa relação amadurecia, eu pude me sentir cada vez mais leve e humanizada, como se aos poucos eu fosse me tornando novamente capaz de amar, se soltassem as amarras de meus sentimentos, o pó de meu peito, e eu me tornasse uma pessoa melhor.

Parece mesmo estranho, mas foram naqueles momentos, quando me entreguei realmente, que me senti mais próxima também de mim mesma. Me sentia viva e era nítido que antes eu vivia num estado anestesiado para me proteger do mundo agressivo, insano e desleal que habita à nossa volta. Mas naqueles momentos você estava ali para me proteger, acolher e falar “Eu gosto de você”. Não havia porque me esconder... estranho falar desses momentos em que eu me senti tão inofensiva ao lado de alguém.

Estive disposta a seguir sempre contigo, para sempre. A superarmos juntos todas as dificuldades; a segurar sua mão quando estivesses com medo para lhe dizer que não importava o que acontecesse, eu invariavelmente sempre estaria ali, pelo que você é. Que eu lhe amo e, se preciso fosse, lhe pegaria no colo pelo tempo necessário a todas as tormentas passarem, e a confiança lhe voltar. Não importando o quanto demorasse, faria do seu, o meu tempo. Por você.

Mas (como sempre tem que haver) nas suas constantes medidas do quão prazeroso era o hoje, que não respeitavam os altos e baixos a que qualquer relação está sujeita, me tornei, em dias alternados, sua certeza e sua dúvida. Então ficou claro que o sonho do “para sempre” passou a ser um sonho que se sonha sozinho, e por não ter com quem dividí-lo, foi ficando cada vez mais pesado e difícil seguir adiante. Me percebi como uma das suas dúvidas, com os olhos do julgamento pairando entre nós, nos distanciando e tolhendo a espontaneidade com o “não pode”, “não faça” e “evite”.

Então abandonei a esperança de ser eu quem teria acesso a uma presença íntima em sua vida, e, não sendo assim, deixou de interessar. Desculpe por isso. Principalmente por ser meu o discurso da necessidade de, em momentos críticos, ceder, passar por cima do orgulho, engolir a mágoa e conseguir recomeçar do zero, reconquistando-nos aos poucos.

Nesse momento queria poder escrever que "é uma pena" ou "infelizmente", mas não soaria natural. Essa é a escolha de ambos, e estamos melhor na ausência que ficou, que na crise que havia. Estranhamente, pela primeira vez em algum tempo, vamos deixar as coisas acontecerem "naturalmente". Como se eu tivesse finalmente conseguido me adaptar as suas expectativas e as suas regras. Não há que assustar ou lamentar por isso. Não há que resistir, o tempo há de nos afastar e passaremos a pensar em nós dois no passado. A maré do "faça como quiser" nos alcançou, e sinto que vai nos distanciar a cada dia, sem a intenção de qualquer esforço de ambos para evitá-lo.

Acabou, e posso dizer que sinto-me privilegiada por ter um dia amado alguém e ter sido correspondida. Foi bom, valeu a pena, e digo ter um pouco de pena das pessoas que não tiveram a oportunidade que eu tive. Fostes a primeira pessoa com quem tive um amor genuíno que senti recíproco, e nossa história vai fazer toda diferença por toda minha vida.

Desisti e deixei de desejar, mas a projeção de uma vida sem carregar seu sorriso em meu bolso me parece tão seca do melhor que se pode ter que não me sinto forte o bastante (ou covarde?) para varrer-nos para debaixo do tapete, pois lhe amei sem reservas e houve de acordar simplesmente feliz por já estares em minha mente, pelo que sua imagem me conforta.

Por fim, aproveito a oportunidade para abençoar suas futuras relações, suas futuras amizades, e o seu futuro. Lhe desejo tudo que possa haver de melhor nesse mundo. Eu, vou apenas respirar fundo e lembrarei de nós apenas pelo que fomos, não pelo que deixamos de ser. (ponto)

Com amor fraterno.
Rosa

[Se tiveres problemas e visualizar/fazer comentários, use o link direto: http://euebotoes.blogspot.com/2010/07/luto-de-morte-vs-luto-de-amor.html Obrigado por acompanhar. Rodrigo.]

7 comentários:

  1. Rosa é uma pessoa mágica. Uma pessoa que permite brotar mais lágrimas num rosto que já derrubou lágrimas suficientes pela sua própria história. Boa noite, Rodrigo...

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  2. Bem, primeiro elogiar pela idéia! Achei muito original, muito mesmo. E pela primeira vez, confesso que fiquei um tanto emocionado com o que escreveste, principalmente quando chegou no "estágio da aceitação". Me identifiquei porque tenho buscado equilíbrio e inteligência emocional em tudo que eu faço e busco... esses 5 estágios não são só para morte e amor, (eu sei que vc sabe disso) mas tbm em tudo que acontece em nossa vida, que envolve perdas e mexe com o nosso orgulho (como no caso do divertido vídeo da girafa).
    Enfim, eu tb quero falar pela estrutura mt interessante do seu post. Quando vc começa com um vídeo bem humorado... parte por uma música que nos emociona e por fim, vc nos leva a uma reflexão.
    muito bem feito!
    Um abraço!!
    P.s. achei que não fosse atualizar tão cedo, fiquei surpreso! :)
    pH

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  3. eu fiz um comentário enrome. mas tava dando erro no dia, acabei comentando no post de baixo. =PP tá lá. =PP

    o/

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  4. Atualizei hj o post, para ficar um pouco mais próximo da sua proposta original. PH ficou surpreso por eu ter atualizado o blog pq estou viajando. Como estou numa lanhouse, comento os comentários depois, quando voltar ao Rio.
    Obrigado pelo carinho.
    Rodrigo

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  5. Não sei se concluí essas fases. Não sei se chegarei a concluir. Talvez esteja na fase da aceitação. Talvez nunca vá aceitar o que aconteceu, da forma como aconteceu. Às vezes acho que só vou lembrar do que deixamos de ser, porque o que fomos foi tão sufocado, tão comprimido que asfixiou e morreu engasgado, entalado. Foi bonito, mas passou. Findou-se. E o que que eu faço com isso? Tenho procurado a solução todo santo dia. Às vezes acho que a estou encontrando; às vezes lembro e durmo pensando, pensando, pensando. Mas chorar,já não choro mais, né, Vi? Pelo menos isso. Era despender energia demais. Doía.
    Você quase escreveu com as mesmas palavras com as quais um dia eu descrevi meu fim. Qual é o nome disso? Sintonia?
    Bj, Rodrigo.

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  6. "A mais delirante paixão, terminada, deixa esse sabor de impostura na boca, como se a felicidade não pudesse ser verdade. E no entanto o foi."
    Ferreira Gullar

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  7. Olá!!
    Vim finalmente aqui deixar meu registro sobre como vc aproveitou a dica que te dei, rsrs.
    Você foi bastante criativo e gostei mto. Confesso que senti falta das fases da negação e raiva mais detalhadas, pq geralmente elas dão mto substrato para trabalhar.
    Preciso nem dizer que me identifico com o que vc escreveu em todas as fases, independente de no momento em que as vivi eu ter mais ou menos experiência de vida. Esta só fez diferenciar a forma como enfrentei cada situação, mas a dor era sempre a mesma. O tempo só parece nos ensinar a lidar com as situações de uma forma mais racional. É preciso que a pessoa tire proveito dessas experiências para não sofrer montanhas a cada um desses novos momentos, o que desgasta muito. Arrasa.
    A contrapartida do amadurecimento do modo de lidar com a perda pode surgir como uma "insensibilidade" que toma conta, e por isso pode se perder muita coisa boa. Ficamos reticentes em mergulhar de cabeça se não houver certeza de ser algo muito produtivo e duradouro. Não vemos que curtos momentos possam valer mais que longos relacionamentos. Passa-se a entrar sem se entregar, cheio de reservas, não se mostrando, com instinto de preservação aguçadíssimo. Acaba por não viver. O tempo passa e é cada vez mais certo o arrependimento do que deixou de viver em nome de... talvez algum conceito, um obstáculo moral, cultural... enfim, valores que de tão óbvios e próximos são difíceis de identificar, quanto mais se desprender.

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